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MEMÓRIA - Álcool é um dos inimigos mais agressivos

03/08/2009

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Cerveja é um dos agentes que interferem na saúde da memóriaNascemos programados para esquecer. Mais cedo ou mais tarde, cada um de nós apagará da lembrança informações recentes, compromissos, conceitos, habilidades. A perda da memória é gradativa e determinada geneticamente com a morte das células nervosas em diferentes áreas do cérebro, provocada por um inimigo certo e igual a todos: o envelhecimento.

Ao longo da vida, muito antes mesmo de ficarmos velhos, nossa memória é atacada de diversas formas, sem que tenhamos um controle sobre isso. Traumas, doenças, medicamentos, exposições a componentes químicos podem causar lesões irreversíveis no cérebro. Mas muitas vezes nos tornamos aliados dos nossos inimigos com atitudes que tomamos conscientemente e, algumas vezes, com muito prazer.

Um dos inimigos mais agressivos é o álcool. Nas células nervosas, essa substância toma o lugar da glicose, mas não é capaz de produzir o mesmo volume de energia.

"Em uma intoxicação alcoólica leve, a pessoa tem diminuição de reflexo, do nível de atenção", explica o psiquiatra Eduardo Teixeira, da PUC de Campinas.

"Já aconteceu de, no dia seguinte, eu não me lembrar de nada. Não é normal, mas às vezes acontece", diz o estudante Bruno Bruscki.

Aos 22 anos, o instrutor de equitação Henrique Hoppmann, tem uma vida noturna agitada nos fins de semana.

"Quando eu vejo, tomei álcool demais", conta. Mas no dia seguinte... "Tenho muita dor de cabeça", descreve.

"Na infância e adolescência, o cérebro está em formação. Na adolescência, ele está quase formado, mas falta o capeamento das fibras. O abuso de álcool pode interferir nisso. No futuro, elas não vão ser o que poderiam. Não vão ter um nível de desempenho ágil e rápido do raciocínio, da memória, como deveriam", diz o neurologista Benito Damasceno, da Universidade de Campinas (Unicamp).

Um homem começou a beber com 18 anos. "Nós saíamos para um bar ou uma lanchonete e bebíamos para nos distrair e bater papo", conta. Hoje, aos 40 anos, ele tenta se livrar do alcoolismo que lhe tirou a família, o emprego, a saúde e, muitas vezes, a memória.

"Era para eu estar tranquilo e saudável. Com 40 anos, já estou perdendo a memória. Isso começou a me assustar muito", conta o homem.

"O álcool destrói as células nervosas. Por causa da dificuldade de absorção do intestino, devido à lesão causada pelo álcool, elas têm deficiência das vitaminas B1 e B12. E a deficiência dessas duas vitaminas vai provocar uma lesão adicional no cérebro, além da lesão que o próprio álcool produz", esclarece Benito Damasceno.

De acordo com os especialistas, a má alimentação é o segundo grande inimigo da memória. E ela também faz parte da rotina de Henrique. Ele troca refeições por salgados fritos. Gordura e altos níveis de colesterol têm um efeito direto na degeneração das células. Comer pouco ou muito açúcar também faz mal para a memória. Deixar de ingerir vitamina B1 também prejudica o funcionamento do cérebro. E ela é encontrada principalmente nos cereais.

De acordo com especialistas, o excesso de comida, seja ela qual for, também compromete a capacidade dos neurônios, porque ingerimos mais energia do que gastamos. Mas o que pouca gente sabe é que a forma como os alimentos são processados também pode provocar a liberação de toxinas que prejudicam o aprendizado e a memória. Os cuidados devem ser redobrados principalmente na hora de preparar alimentos que tenham proteína, como carnes e queijos.

"As crostinhas que se formam pelo excesso de calor são as concentrações de toxinas – as aminas heterociclicas que são produzidas em qualquer músculo pela queima de um composto chamado creatinina. Existem evidências científicas que mostram ser muito mais seguro o preparo controlando a temperatura de forma que a carne fique sem a formação de crostinhas", explica a professora de nutrição Semíramis Domene, da PUC de Campinas.

A própria panela é um risco. "Quando apertamos a carne contra o fundo da superfície que está aquecida e cheia de marquinhas que indicam combustão, há muito mais incorporação de toxinas no corte de carne", alerta a professora.

A principal dica é controlar a temperatura durante o cozimento. "Podemos usar uma pequena quantidade de óleo. O óleo vegetal é importante para a saúde das pessoas porque fornece ácidos graxos essenciais. É inadequada a impressão que se tem de que óleo faz mal sempre. O óleo queimado é que faz mal. Com a adição de temperos, como a cebola, conseguimos produzir um meio em que a temperatura vai ser controlada. Quem não gosta de cebola pode adicionar pequenas quantidades de água. Podemos utilizar um recipiente que permita que a gordura, ao derreter com o calor, pingue e esfrie. Uma assadeira que tenha água no fundo evita a formação de compostos tóxicos. Uma alternativa é embalar o corte de carne em papel-alumínio. Isso permite que a própria umidade do corte mantenha as condições de proteção para a formação de toxinas", explica Semíramis Domene.

Em meio à natureza, Henrique treina cavalos e ensina equitação. Mas tenta se equilibrar. Tem como chefe a própria mãe, ansiosa para ver o filho terminar os estudos. Há ainda a cobrança das outras mães: as dos alunos, principalmente nas competições.

"A cobrança vem em cima de resultados. Ganhar é maravilhoso. Mas não ganhar é trabalho em vão", diz Henrique.

Um cérebro submetido a obstáculos de estresse, má alimentação e eventuais excessos na bebida está sujeito a alguns tombos da memória.

"Eu me esqueço de levar o controle do portão, a chave. Então, acabo voltando", conta Henrique.

De mil pessoas que já passaram pela sala da Unicamp recentemente com sintomas de estresse, um terço delas reclamava de perdas de memória.

"Se alguém me contrariasse, era uma explosão só. E quando eu tinha esses chiliques, dava um branco em mim. Até que eu voltasse e tomasse consciência daquilo que eu tinha feito, ficava desmemoriada", conta a aposentada Dulce Prosperi.

Nas sessões de terapia, psicólogos ensinam técnicas de relaxamento que podem ser úteis para controlar o estresse. Tudo é gravado para, mais tarde, passar por uma avaliação mais minuciosa.

"Nós avaliamos comportamentos verbais e não verbais. Observamos se a pessoa está expressando irritabilidade, nervosismo, se ela está com raiva. Por isso, nós gravamos. Na gravação, temos algo palpável, objetivo e mensurável", diz a psicóloga Marilda Lipp.

Dona Maria Sílvia chegou depois de dois enfartes. Problemas de família a deixavam muito nervosa. Como não se alimentava direito, se tornou diabética. No auge da crise, os lapsos de memória eram frequentes. "Tenho que separar os remédios porque às vezes eu tomo repetido e isso faz mal", conta.

Além da terapia em grupo, dona Maria Sílvia tenta se recuperar relaxando o corpo na piscina, ativando a mente com o bordado e nos estudos, que retomou aos 55 anos. Lições que só agora ela consegue aprender e não quer que se apaguem da memória de jeito nenhum.

"Muitas coisas que eu não pensava aprender estou aprendendo agora", diz dona Maria Sílvia.

por Cristina Maia, Campinas (SP),
para o site do Globo Repórter
 

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