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Atenção à Saúde Mental

07/01/2022

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Já estamos vivendo há quase dois anos nesta pandemia de Coronavírus e, além da quarentena em nossas casas, do medo em relação à doença e das perdas de muitos familiares e amigos queridos, este período tem mexido muito com os nossos sentimentos, aflorando algumas doenças mentais em grande parte da população, como depressão e ansiedade. Mas um novo ano se aproxima, e aqui fica a nossa dúvida: podemos ter esperança de que dias melhores estão chegando?

O Fator A foi conversar com o psicólogo e ex-bamerindiano José Luiz Nauiack, que falou conosco sobre os desafios do atual momento, as consequências na nossa saúde mental e a importância do autoconhecimento e da positividade.

Confira abaixo a nossa entrevista com o doutor, realizada pelo jornalista Raphael Ramirez para o Fator A 48, publicado em dezembro de 2021:

Fator A - Estamos passando por um período extremamente complicado para toda a população, que teve muitas perdas, quarentena, medo, insegurança. Que tipos de comportamentos o senhor tem observado nas pessoas nestes quase dois anos de pandemia? O que o medo, a insegurança e o distanciamento têm aflorado nelas?

Dr. José Luiz Nauiack –
Basicamente, eu tenho percebido que as pessoas têm lançado um olhar para si. Antes da pandemia, a grande preocupação era o fazer: as pessoas acabavam se envolvendo com tantas coisas e não olhavam para si mesmas. Nestes dois últimos anos, começamos a nos perguntar “O que eu estou fazendo aqui, nesta vida, neste planeta, nesta história?”. Vivemos apenas para produzir e pagar boleto? Errado: precisamos querer mais do que isto. Precisamos de relacionamentos, amigos, tudo o que perdemos correndo atrás do trabalho.

Com pandemia ou sem pandemia, eu acho que existem três grandes palavras, valores ou ideias que a gente tem que perseguir sempre para não entrar na rotina. A primeira delas é desafio: eu tenho que me desafiar constantemente. Prazer é outra coisa que eu preciso ter diariamente, e às vezes é receber alguém, conversar com a minha esposa. Quando eu vejo que a minha companheira está estressada, eu vou colaborar com ela nos afazeres domésticos. Eu gosto disto? Mas daí temos o terceiro item: gentileza. Eu preciso destes três itens no meu dia a dia.

Hoje eu vejo que tem muita gente entrando neste processo de autoanálise, cuidado e observação de forma forçada, porque a pandemia nos obrigou a ficar em casa. Agora eu tenho que me relacionar com as pessoas que estão próximas. Ao olhar as pessoas que estão ao meu redor como meus companheiros, isto mudou a minha percepção: os outros estão sofrendo a mesma coisa que a gente. Cada um tem a sua jornada, o seu trabalho, então eu vejo que a pandemia antecipou este movimento, evidenciou a necessidade do companheirismo, de olhar o outro, de se desafiar, ter prazer com a simplicidade e com a gentileza. Eu acho que a pandemia foi algo positivo. Muita gente não estava preparada para isto, está estressada, não tem mais a vida de antes. Mas isto é fantástico: a vida de antes era viver para pagar boleto e hoje não é mais. Hoje é olhar pelo próximo. Precisamos tirar uma lição positiva de tudo isto.


Fator A - O senhor acredita que este período irá deixar muitas marcas na saúde mental das pessoas a curto, médio e longo prazo?

Dr. José Luiz Nauiack –
Depende da forma como se está encarando este período. Se você vê tudo isto como traumático, como sofrimento, se você continua sofrendo e alimentando isto, sim, vai demorar muito tempo para você superar. Não estou dizendo em relação ao medo de ficar doente: esta preocupação talvez demore um tempo para que a gente consiga voltar a agir com naturalidade. O medo vai depender do quanto você alimenta o medo. Se eu trabalho isto de forma positiva, vai ser algo bom; já se eu me fecho, me isolo, o que eu estou ensinando para os meus filhos e netos?

Não podemos imaginar que daqui a vinte anos vai estar tudo bem, resolvido e eu vou viver lá. Eu estou vivendo o hoje e nem sei se eu vou chegar lá. Mas não podemos esperar a morte parados, sem fazer nada: precisamos dar trabalho para ela. Vamos aproveitar a vida da melhor forma que conseguirmos. Com cuidado e carinho, mas com alegria, diversão e muitos desafios.


Fator A - No caso dos idosos, o senhor vê algum tipo de dano mais específico?

Dr. José Luiz Nauiack –
Na verdade o que eu tenho visto neste período, mais especificamente com a terceira idade, é um aprofundamento com a espiritualidade. Durante os últimos anos, a gente se afastou um pouco da espiritualidade, fomos para o lado material. Religião deveria ser um “Religar”, eu com Deus. É a busca do si mesmo: quem sou eu, como é a minha relação com o todo, comigo, com o outro? Se eu sou especial, tenho que olhar para as outras pessoas como se elas também fossem especiais, porque elas são especiais.

E muitas vezes a gente ficava focado no material, no ter que construir; agora a pandemia, nas pessoas de mais idade, fez com que se diminuísse o relacionamento, com os amigos indo embora ou não podendo se encontrar; alguns filhos nos proíbem de sair... Mas tem algumas coisas que nós ainda podemos fazer: este aprofundamento da relação da terceira idade com a pandemia e as restrições veio para fortalecer a relação do indivíduo consigo mesmo, com as suas crenças e com Deus.

A pandemia afastou as pessoas, mas também aproximou: ela nos afastou daquelas pessoas que já estavam longe, e permitiu que a gente se aproximasse das pessoas que a gente deveria ser próximo.


Fator A - O processo natural de envelhecimento traz alguns danos para a saúde mental da população em geral?

Dr. José Luiz Nauiack –
Sim, influencia. Principalmente se você tiver pessimismo. Eu estou envelhecendo, não faço mais as coisas como fazia antigamente. O que eu posso fazer hoje? Eu posso fazer as coisas que uma pessoa da minha idade pode fazer. Eu tenho que me acomodar e entender isto, mas não posso me limitar. Ok, eu vou parar de dirigir, realizar atividades físicas intensas, mas posso ir ao banco, posso pagar as minhas contas, ir ao mercado. Quantas coisas, apesar de eu estar mais fraco do que antes, eu ainda posso fazer? Muitas vezes a única coisa que eu posso fazer por alguém é dar atenção. O que eu vou fazer então? Eu vou mostrar para as pessoas o quão importante elas são. Se eu valorizo a pessoa que está junto comigo, ela me valoriza.

Fator A - De qual forma as pessoas podem – e deveriam – cuidar da sua saúde mental durante a vida?

Dr. José Luiz Nauiack –
Atualmente, as pessoas cuidam da saúde mental por obrigação. Normalmente dizem assim: “Você está muito mal, então tem que ir para a terapia”. A pessoa acaba sendo empurrada para a terapia; são poucas aquelas que fazem terapia porque querem se conhecer, descobrir o seu potencial, quais são as suas limitações. Se você tem amor por você mesmo, procure a terapia, se conheça e se encontre.

Fator A - Como já comentado, estamos nos aproximando de dois anos de uma avassaladora pandemia. Muitos danos já ocorreram na saúde mental das pessoas; que dicas de bons hábitos o senhor poderia dar para que as pessoas comecem a cuidar com um pouco mais de carinho ou atenção para a sua saúde mental?

Dr. José Luiz Nauiack –
Faça atividades físicas. De preferência ao ar livre; vá caminhar num parque e, se puder, com alguma companhia. Você até consegue ir sozinho, mas será que o seu amigo consegue ir sozinho? Chame alguém para ir junto, converse, tome um café. Será que você não tem um amigo que está precisando de um amigo?

Fator A - Um novo ano se aproxima; de qual maneira podemos renovar as nossas esperanças de que dias melhores se aproximam?

Dr. José Luiz Nauiack –
Eu gostaria de citar este autor, Napoleão Hill no livro “Mais Esperto Que o Diabo”. Ele fala sobre o fracasso e a derrota. Qual a diferença entre as duas coisas? Quando eu penso em fracasso, pra mim é algo permanente. Já uma derrota é uma semente de crescimento. Eu tive uma derrota em um projeto, um trabalho, algo que não deu certo? Se você fica preso na derrota, você não progride. Mas é justamente após um fracasso que a gente progride; eu posso levantar e fazer de novo.

Quantos projetos eu já tive que foram fracassados, que não deram certo? Neste ano mesmo eu tinha alguns projetos que eu não concluí. Mas eu não fui derrotado: eu posso pegar o meu projeto e falar que foi um fracasso... Neste ano. Ano que vem eu revejo e tento novamente. Eu vou ajustar com a experiência que eu tive neste ano. Eu ainda não consegui, mas eu posso conseguir. Se eu ficar com este pensamento de que eu não consigo, daí eu não consigo mesmo. O melhor é pensar que eu vou conseguir, e nós vamos conseguir superar este período.

É esta mensagem que eu quero deixar para as pessoas: eu não desisto. O que fazer em 2022? Simplesmente não desista.


SERVIÇO
Dr. José Luiz Nauiack

Psicólogo
Endereço: Rua Padre Anchieta, 1923, sala 503, Champagnat

Contatos
Telefone: (41) 99953-9370
e-mail: jose@nauiack.com.br

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