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Cuidado com a sua audição
08/11/2021
Você conhece alguém que, durante o processo de envelhecimento, foi apresentando dificuldades na audição? Este é um processo pelo qual a maioria das pessoas passa na terceira idade. Mas, apesar de natural, é uma situação bastante complexa: muitas pessoas que ouvem mal passam a se isolar e perdem o contato, pouco a pouco, com os amigos e familiares. Existe forma de reverter esta situação? Qual sinal o seu corpo pode apresentar de que há problemas de saúde?
O Fator A foi conversar com o otorrinolaringologista Herton Coifman, autor do livro Otorrinogeriatria, que há décadas realiza um trabalho de cuidado, recuperação e prevenção aos problemas auditivos durante a terceira idade.
Confira abaixo a nossa entrevista com o doutor:
FATOR A - Com o processo de envelhecimento, algumas funções do nosso corpo, como a audição, passam a apresentar algumas dificuldades – e muitas pessoas acreditam ser um processo natural do envelhecimento. Como identificar o que é natural e o que pode ser um problema de saúde?
DR. HERTON COIFMAN - Primeira coisa: o envelhecimento não é uma doença, mas sim uma etapa fisiológica da vida. Mas você pode envelhecer de forma saudável ou de maneira doentia. Até pouco tempo atrás, uma pessoa de 70 anos era uma pessoa velha. Hoje a gente vê as pessoas passando dos 90 anos com tranquilidade. O que nós precisamos fazer com estes vinte anos a mais que nós ganhamos?
É aí que nós vamos entrar na questão da audição. Precisamos fazer valer a pena estar vivo, com autonomia e capacidade de tomar as decisões. Eu consigo fazer aquilo que decido sem o auxílio de ninguém? Para que eu possa ter autonomia e independência, preciso me comunicar bem com o meio ambiente.
É aí que nós chegamos ao fator da cognição. Trata-se de um conhecimento de tudo o que está ocorrendo ao redor. Nós mantemos todos os nossos canais de comunicação entre o cérebro e o meio ambiente, e estes canais são os nossos sentidos. Tudo isto quando chega ao cérebro, vai para a nossa memória, onde estão arquivadas as nossas experiências anteriores. Ele reconhece as informações e dá um formato que nos permite entender aquilo o que estamos recebendo.
Para que a gente possa ter autonomia, tem que ter uma boa cognição. Precisamos estar conectados com tudo o que está acontecendo ao nosso redor. A audição, que é o resumo de um monte destes canais juntos, é um dos mais importantes de todos. É ela que te permite se comunicar e estar inserido dentro da sociedade que a gente vive.
Isto nos leva a tentar manter estes sistemas todos funcionando bem. Para que você possa se reunir com seus amigos, conversar, rir, viajar e aprender com as coisas ao seu redor. O idoso precisa aprender coisas novas; ele não precisa ficar preso àquilo que aprendeu durante a sua vida. O que permite você ir renovando as suas experiências e acrescentando coisas novas?
É conseguir ouvir bem, enxergar bem, se equilibrar bem para poder sair e passear. O idoso abandonado é uma coisa muito triste: a gente quer ter a família e os amigos à nossa volta. Não ouvir direito, é uma forma de ser solitário, de não se comunicar. Porque o idoso que não ouve bem, é aquele velhinho que todo mundo fala com muito sacrifício, que fica sentado ali em uma cadeira. Toda a família chega, vai lá cumprimentar, beijar, mas depois ele fica ali, ninguém vem conversar com ele. Não é agradável conversar com uma pessoa que não ouve nada. E ele acaba ficando preso àquelas experiências antigas que tem gravado no cérebro dele.
Ele tira aquelas experiências antigas para contar porque ele não acrescenta novas experiências. Ele sempre volta e conta as mesmas coisas. É o que ele tem para falar, vai se isolando e se repetindo. E a privação auditiva e social vai fazendo com que ele comece a ficar confuso e esquecido. No começo, o que era um comprometimento cognitivo leve, vai aumentando. O processo de demencialização tem a perda de audição como um fator determinante.
A demência começa com uma baixa cognição, com a dificuldade de você se comunicar e de acrescentar coisas novas. E chega um ponto em que ele já não sabe mais quem ele é, aonde ele está, quem são as pessoas ao redor. É um fim de vida que ninguém quer ter. Portanto, ter uma boa audição é muito importante, mantendo a gente afastado deste processo de envelhecimento doentio que chamamos de senescência e que leva a gente a este final infeliz.
Todo mundo chega assim: “Estou ouvindo menos, mas isto é normal, né? Eu estou enxergando mal, mas isto é normal na nossa idade...”. Mas as coisas não deveriam ser assim. Se você está enxergando mal, precisa colocar um óculos, operar a catarata, faz o que for preciso. Se você está com problema de audição, coloca um aparelho auditivo. Pelo contrário, você está apressando o processo para morrer em vida.
Nossa sugestão é: não jogue a toalha nunca. Faça sempre alguma coisa para se manter ativo, tenha novos projetos, cuide da saúde, não aceite coisas que são naturais da idade e por isto estão acontecendo com você. Você pode ir atrás para suprir esta deficiência. Tente se manter sempre bem, ativo e usufruindo da vida que existe em volta da melhor forma.
FATOR A - Quais as principais doenças auditivas que acometem a terceira idade?
DR. HERTON - A perda auditiva não é simplesmente um problema genético. Embora isto tenha uma influência muito grande: se você vem de uma família em que todo mundo perde a audição cedo, você provavelmente vai ter esta mesma tendência. E vice-versa: se você tem uma família de longevos, e todo mundo perde a audição muito tarde, isto é um bom sinal.
Mas existem determinados fatores que ajudam a apressar a perda auditiva. Por exemplo, se você trabalhou em um ambiente com ruídos durante muito tempo. Estes problemas ocupacionais apressam bastante a incidência de problemas auditivos. Existem algumas drogas conhecidas como ototóxicas, que podem tirar a audição. Uma classe de antibióticos e quimioterápicos que podem tirar a audição. Por fim, há também algumas doenças que você vai adquirindo durante a vida que podem impactar na sua audição.
FATOR A - Qual a importância de realizar exames rotineiros nesta faixa etária?
DR. HERTON - Infelizmente as pessoas não realizam exames com frequência. A partir dos 60 anos, você pode fazer uma audiometria a cada dois anos. Se tiver algum problema que foi detectado, aí a gente passa a fazer exames anuais. Da mesma maneira que os exames de vista. Estas coisas devem fazer parte da nossa rotina diagnóstica, como prevenção. A privação auditiva colabora para o fator de demencialização. Quando se começa a perder a audição, tem dificuldade de comunicação e, em determinados casos, o otorrino indica a colocação de um aparelho auditivo, a última coisa que ele quer ouvir é: “Olha, eu ainda estou ouvindo um pouco. Quando eu não conseguir ouvir mais nada, daí eu começo a usar um aparelho auditivo”. Isto é algo mortal, porque o tempo que o nosso cérebro ficou em privação auditiva e sonora, ele vai se deteriorando na interpretação de sons que chegam até ele. Aí quando você coloca o aparelho auditivo, nem sempre esta função se recupera.
FATOR A - Existem formas de amenizar dificuldades naturais auditivas?
DR. HERTON - A audição não é uma coisa que acontece só no ouvido. Ela com frequência é consequência de alguma doença sistêmica. A diabete, a hipertensão, problemas na tireoide são doenças que podem tirar a audição. Como você lida com isto? O otorrino precisa identificar a causa. Ele pede os exames e identifica a doença. Existem pessoas que vem até o consultório sem saber que tem alguma outra doença. Assim que identificamos quais são as causas, encaminhamos o paciente para um endocrinologista que vai fazer o tratamento. Precisamos enxergar o corpo como um todo, buscando causas e investindo no tratamento adequado.
FATOR A - Ainda existe preconceito ou restrição ao uso do aparelho auditivo?
DR. HERTON - Hoje em dias as pessoas aceitam com mais facilidade. Até porque o tamanho dos aparelhos tem diminuído, mas existem situações especificas. Há alguns dias eu atendi uma paciente que não quer por aparelho, de jeito nenhum, por questões estéticas. É uma pena, porque ela está ouvindo muito mal, mas está valorizando mais uma questão estética do que uma social e neurológica. Ela está invertendo a ordem de prioridades.
FATOR A - Qual a melhor forma de auxiliar um idoso que esteja com dificuldades auditivas?
DR. HERTON - Quando as pessoas estão em um determinado nível de perda auditiva, às vezes o simples fato de você colocar um aparelho auditivo não é o suficiente. Então você precisa complementar as informações auditivas com informações visuais. Este é o indivíduo que te ouve, mas também vê a sua expressão facial, fazendo uma leitura labial. Existe um nível de perda auditiva inicial onde um aparelho auditivo resolve tudo. Há também uma perda um pouco mais severa, onde a gente tem que complementar, a audição com a leitura labial e expressão facial. E existe um estágio extremamente severo, em que tudo isto já não adianta.
Será que podemos fazer um implante coclear em um idoso? Se as estruturas neurológicas do ouvido estão íntegras, se este idoso ainda está lúcido, ele é uma pessoa que merece colocar um aparelho auditivo. Você jamais tem o direito de negar uma cirurgia baseado apenas em um critério de idade. Se esta pessoa tiver condições e se valer a pena fazer esta cirurgia, nós iremos investir nesta solução.
O Fator A foi conversar com o otorrinolaringologista Herton Coifman, autor do livro Otorrinogeriatria, que há décadas realiza um trabalho de cuidado, recuperação e prevenção aos problemas auditivos durante a terceira idade.
Confira abaixo a nossa entrevista com o doutor:
FATOR A - Com o processo de envelhecimento, algumas funções do nosso corpo, como a audição, passam a apresentar algumas dificuldades – e muitas pessoas acreditam ser um processo natural do envelhecimento. Como identificar o que é natural e o que pode ser um problema de saúde?
DR. HERTON COIFMAN - Primeira coisa: o envelhecimento não é uma doença, mas sim uma etapa fisiológica da vida. Mas você pode envelhecer de forma saudável ou de maneira doentia. Até pouco tempo atrás, uma pessoa de 70 anos era uma pessoa velha. Hoje a gente vê as pessoas passando dos 90 anos com tranquilidade. O que nós precisamos fazer com estes vinte anos a mais que nós ganhamos?
É aí que nós vamos entrar na questão da audição. Precisamos fazer valer a pena estar vivo, com autonomia e capacidade de tomar as decisões. Eu consigo fazer aquilo que decido sem o auxílio de ninguém? Para que eu possa ter autonomia e independência, preciso me comunicar bem com o meio ambiente.
É aí que nós chegamos ao fator da cognição. Trata-se de um conhecimento de tudo o que está ocorrendo ao redor. Nós mantemos todos os nossos canais de comunicação entre o cérebro e o meio ambiente, e estes canais são os nossos sentidos. Tudo isto quando chega ao cérebro, vai para a nossa memória, onde estão arquivadas as nossas experiências anteriores. Ele reconhece as informações e dá um formato que nos permite entender aquilo o que estamos recebendo.
Para que a gente possa ter autonomia, tem que ter uma boa cognição. Precisamos estar conectados com tudo o que está acontecendo ao nosso redor. A audição, que é o resumo de um monte destes canais juntos, é um dos mais importantes de todos. É ela que te permite se comunicar e estar inserido dentro da sociedade que a gente vive.
Isto nos leva a tentar manter estes sistemas todos funcionando bem. Para que você possa se reunir com seus amigos, conversar, rir, viajar e aprender com as coisas ao seu redor. O idoso precisa aprender coisas novas; ele não precisa ficar preso àquilo que aprendeu durante a sua vida. O que permite você ir renovando as suas experiências e acrescentando coisas novas?
É conseguir ouvir bem, enxergar bem, se equilibrar bem para poder sair e passear. O idoso abandonado é uma coisa muito triste: a gente quer ter a família e os amigos à nossa volta. Não ouvir direito, é uma forma de ser solitário, de não se comunicar. Porque o idoso que não ouve bem, é aquele velhinho que todo mundo fala com muito sacrifício, que fica sentado ali em uma cadeira. Toda a família chega, vai lá cumprimentar, beijar, mas depois ele fica ali, ninguém vem conversar com ele. Não é agradável conversar com uma pessoa que não ouve nada. E ele acaba ficando preso àquelas experiências antigas que tem gravado no cérebro dele.
Ele tira aquelas experiências antigas para contar porque ele não acrescenta novas experiências. Ele sempre volta e conta as mesmas coisas. É o que ele tem para falar, vai se isolando e se repetindo. E a privação auditiva e social vai fazendo com que ele comece a ficar confuso e esquecido. No começo, o que era um comprometimento cognitivo leve, vai aumentando. O processo de demencialização tem a perda de audição como um fator determinante.
A demência começa com uma baixa cognição, com a dificuldade de você se comunicar e de acrescentar coisas novas. E chega um ponto em que ele já não sabe mais quem ele é, aonde ele está, quem são as pessoas ao redor. É um fim de vida que ninguém quer ter. Portanto, ter uma boa audição é muito importante, mantendo a gente afastado deste processo de envelhecimento doentio que chamamos de senescência e que leva a gente a este final infeliz.
Todo mundo chega assim: “Estou ouvindo menos, mas isto é normal, né? Eu estou enxergando mal, mas isto é normal na nossa idade...”. Mas as coisas não deveriam ser assim. Se você está enxergando mal, precisa colocar um óculos, operar a catarata, faz o que for preciso. Se você está com problema de audição, coloca um aparelho auditivo. Pelo contrário, você está apressando o processo para morrer em vida.
Nossa sugestão é: não jogue a toalha nunca. Faça sempre alguma coisa para se manter ativo, tenha novos projetos, cuide da saúde, não aceite coisas que são naturais da idade e por isto estão acontecendo com você. Você pode ir atrás para suprir esta deficiência. Tente se manter sempre bem, ativo e usufruindo da vida que existe em volta da melhor forma.
FATOR A - Quais as principais doenças auditivas que acometem a terceira idade?
DR. HERTON - A perda auditiva não é simplesmente um problema genético. Embora isto tenha uma influência muito grande: se você vem de uma família em que todo mundo perde a audição cedo, você provavelmente vai ter esta mesma tendência. E vice-versa: se você tem uma família de longevos, e todo mundo perde a audição muito tarde, isto é um bom sinal.
Mas existem determinados fatores que ajudam a apressar a perda auditiva. Por exemplo, se você trabalhou em um ambiente com ruídos durante muito tempo. Estes problemas ocupacionais apressam bastante a incidência de problemas auditivos. Existem algumas drogas conhecidas como ototóxicas, que podem tirar a audição. Uma classe de antibióticos e quimioterápicos que podem tirar a audição. Por fim, há também algumas doenças que você vai adquirindo durante a vida que podem impactar na sua audição.
FATOR A - Qual a importância de realizar exames rotineiros nesta faixa etária?
DR. HERTON - Infelizmente as pessoas não realizam exames com frequência. A partir dos 60 anos, você pode fazer uma audiometria a cada dois anos. Se tiver algum problema que foi detectado, aí a gente passa a fazer exames anuais. Da mesma maneira que os exames de vista. Estas coisas devem fazer parte da nossa rotina diagnóstica, como prevenção. A privação auditiva colabora para o fator de demencialização. Quando se começa a perder a audição, tem dificuldade de comunicação e, em determinados casos, o otorrino indica a colocação de um aparelho auditivo, a última coisa que ele quer ouvir é: “Olha, eu ainda estou ouvindo um pouco. Quando eu não conseguir ouvir mais nada, daí eu começo a usar um aparelho auditivo”. Isto é algo mortal, porque o tempo que o nosso cérebro ficou em privação auditiva e sonora, ele vai se deteriorando na interpretação de sons que chegam até ele. Aí quando você coloca o aparelho auditivo, nem sempre esta função se recupera.
FATOR A - Existem formas de amenizar dificuldades naturais auditivas?
DR. HERTON - A audição não é uma coisa que acontece só no ouvido. Ela com frequência é consequência de alguma doença sistêmica. A diabete, a hipertensão, problemas na tireoide são doenças que podem tirar a audição. Como você lida com isto? O otorrino precisa identificar a causa. Ele pede os exames e identifica a doença. Existem pessoas que vem até o consultório sem saber que tem alguma outra doença. Assim que identificamos quais são as causas, encaminhamos o paciente para um endocrinologista que vai fazer o tratamento. Precisamos enxergar o corpo como um todo, buscando causas e investindo no tratamento adequado.
FATOR A - Ainda existe preconceito ou restrição ao uso do aparelho auditivo?
DR. HERTON - Hoje em dias as pessoas aceitam com mais facilidade. Até porque o tamanho dos aparelhos tem diminuído, mas existem situações especificas. Há alguns dias eu atendi uma paciente que não quer por aparelho, de jeito nenhum, por questões estéticas. É uma pena, porque ela está ouvindo muito mal, mas está valorizando mais uma questão estética do que uma social e neurológica. Ela está invertendo a ordem de prioridades.
FATOR A - Qual a melhor forma de auxiliar um idoso que esteja com dificuldades auditivas?
DR. HERTON - Quando as pessoas estão em um determinado nível de perda auditiva, às vezes o simples fato de você colocar um aparelho auditivo não é o suficiente. Então você precisa complementar as informações auditivas com informações visuais. Este é o indivíduo que te ouve, mas também vê a sua expressão facial, fazendo uma leitura labial. Existe um nível de perda auditiva inicial onde um aparelho auditivo resolve tudo. Há também uma perda um pouco mais severa, onde a gente tem que complementar, a audição com a leitura labial e expressão facial. E existe um estágio extremamente severo, em que tudo isto já não adianta.
Será que podemos fazer um implante coclear em um idoso? Se as estruturas neurológicas do ouvido estão íntegras, se este idoso ainda está lúcido, ele é uma pessoa que merece colocar um aparelho auditivo. Você jamais tem o direito de negar uma cirurgia baseado apenas em um critério de idade. Se esta pessoa tiver condições e se valer a pena fazer esta cirurgia, nós iremos investir nesta solução.
SERVIÇO
Dr. Herton Coifman
Otorrinolaringologista
R. Padre Anchieta, 2050 - 26º andar, sala 2609, Bigorrilho, Curitiba/PR
Telefone: (41) 3018-2707
Dr. Herton Coifman
Otorrinolaringologista
R. Padre Anchieta, 2050 - 26º andar, sala 2609, Bigorrilho, Curitiba/PR
Telefone: (41) 3018-2707
Entrevista publicada no Jornal Fator A da Apabam, lançado em outubro de 2021.