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Por Onde Anda? Reynaldo José Baptista
22/03/2023
Perfil publicado no jornal Fator A, edição 51, lançado em dezembro de 2022.
Edição: Raphael Ramirez
Edição: Raphael Ramirez
Após me formar professor de Letras, o gerente do Bamerindus José Manoel Marques da Silva, o Mané do Chapada, me convidou para trabalhar como caixa na Ag. Urbana Ermelino Matarazzo, em São Paulo/SP. Em 1970, aos 27 anos, entrei no Bamerindus e fiquei 25 anos, (sendo 22 de gerência) onde me aposentei em 1995 e graças a Deus sou Apabeano.
Por ser de família tradicional da Zona Leste e ter um enorme relacionamento, o meu perfil foi de autêntico relações públicas e isto usei no banco. Visitava nos fins de semana, abria contas, e com um ano fui promovido para a gerência na urbana Guaianases. Seu Jair me levou para São Jose dos Campos/SP e logo me tornei gerente titular. Voltei para Guaianases, depois São Mateus, São Jorge (rua do Corinthians), Mooca (reduto Palmeirense), alguns meses no Ceasa.
O meu perfil era conhecer o cliente, ele precisava notar a minha presença! Quando ia às compras, comprava metade em um mercado e metade em outro. Abastecia o carro meio tanque em um posto, completava em outro; almoçava em restaurantes diferentes, pescava... Vamos chamar de “marcar território”. Conhecer o cliente, do que ele aprecia, gosta. Imagine falar de política, futebol, e ele detestar. Descobria que o financeiro gostava de novela. Assistia, lia e ao visitá-lo direcionava a conversa para este assunto. Participava de eventos, organizava a Festa de San Genaro na Mooca. Que sucesso! Uma hora ele dizia: “Preciso abrir uma conta no Bamerindus”.
Meus colegas diziam que nunca queriam ser transferidos para a agência que eu trabalhava, pois era “louco”. Um exemplo “dramático”: como a Pavimentadora Vicente Matheus, presidente do Corinthians, melhor conta da agência. Seiscentos empregados recebendo na agência quando assumi. Resolvi o problema!
Com o apoio de alguns funcionários, abria a agência às 7h e, até as 9h, todos já tinham recebido e era um sossego para trabalhar! Quando um gerente concorrente ia visitar o seu Vicente e dizia que o banco dele fazia tudo que o Bamerindus fazia, ele respondia: “Vocês abrem às sete horas?”. Nunca mais voltava. Pagava das 18h às 19h algumas lojas. Pagamento da empresa caia na segunda, levava o valor da folha de pagamento no sábado. Muito sacrifício, mas valeu, pois essa estratégia me levou para a Copa. Ganhar o Fusca como terceiro maior depósito na urbana São Matheus, ser eleito gerente do ano. Abria conta dos frentistas, barbeiros, garçons, engraxates e eles faziam a propaganda da minha agência. Quando um cliente abastecia um carro, o frentista já dizia: “O senhor precisa abrir uma conta no Bamerindus. Eu tenho, o dono do posto também. O pessoal é muito bom.”
Assumi a agência de Guaianases e estavam fazendo um lindo e enorme prédio. Levaria mais ou menos seis meses, e o grande problema eram os dois mil beneficiários do INSS que afastavam os clientes. Era um tumulto. Descobri que a igreja de São Benedito tinha uma sala que dava saída para igreja, e aluguei a mesma. Liguei para o Dr° Luiz Antônio que na época era regional, ficou assustado, mais gostou da ideia e permitiu, mas se aparecesse o fiscal do Bacen eu diria que fiz por conta própria.
Que sucesso! Duas mil pessoas a menos na agência. Povo feliz. Sentava-se no banco da igreja, sem sol, sem chuva, recebia, pagava suas obrigações, rezava, e São Benedito “ficou rico” de tantas esmolas. O Bacen veio, disse que era responsável e tinha feito provisoriamente! Mostrei o lado social e mostrei a agência nova. Deu tudo certo!
O meu cartão de visitas ficava dentro da carteirinha de diretor do Corinthians. Ia visitar, abria a mesma e se fosse corintiano era uma festa, se não fosse quebrava o gelo. Foi muito importante, pois muitas contas conquistadas aconteceram devido ao meu relacionamento, pois cheguei a Vice de Finanças. Um exemplo foi a conta do Clube Juventus, que a Mooca nunca conseguiu abrir. O presidente Ferreira Pinto não recebia gerentes de outro banco. Em reuniões na Federação Paulista de Futebol, tive um contato mais próximo e logo depois abriu a conta. Aplicava um milhão por dia no over. E muitas outras contas...
Como gerente na Mooca, ganhei a campanha para ir a Copa. Imagine, eu um esportista nato o que senti. Meu pai me dá três mil reais, para comprar dólar, me torno representante oficial do Corinthians na Copa. Jornais da região enaltecem a conquista. Tudo pronto para a viagem! Faltando uns quinze dias para ir à Copa, fiz um empréstimo para uma empresa e deu tudo errado. O regional me chama e diz que pela operação errada seria castigado e NÃO iria mais viajar! Considerei um absurdo e depois de chorar muito, disse: “Eu vou”.
Liguei para todo mundo, carta para o presidente, para o seu Zé Eduardo que estava em Brasília. Dias terríveis... Em um desses dias, abro a agência e os primeiros a entrar foram os diretores do Sindicato dos Bancários que vieram apurar os fatos e se realmente era verdade! Expliquei e eles não se conformaram, pois o banco poderia até me mandar embora, mas depois da Copa, pois esse direito foi conquistado! Disseram que iam apurar tudo e caso eu não fosse viajar a manchete do Jornal do Sindicato seria: “O BANCO QUE FAZ, NÃO FAZ!”.
Não sei se foi o sindicato, o presidente, alguém, mas três dias antes me ligam para me avisar que iria a Copa, mas com um castigo. Que castigo seria esse? “Seu Reynaldo o senhor vai, mas de castigo não poderá ir com o grupo. Vai com a esposa em outro voo, em outro hotel. Aqui estão os ingressos para os jogos, as passagens para São Francisco, e para compensar os eventos que não vai participar estamos lhe dando 2.000 dólares”.
Triste por não estar com meus colegas, somente eu e a esposa! Mas Deus é maravilhoso e ao adentrar no hotel toda a imprensa esportiva de São Paulo, meus amigos, estavam hospedados. Quem estava também era a equipe do Jô Soares - Onze e Meia, na época no SBT e me convidaram para assistir à gravação. Fui ver treinos da seleção, aluguei um carro, fui às praias e até ver o lançamento do filme Schwarzenegger – True Lies (Sensacional).
Peguei a passagem do avião para São Francisco, guardei fui de carro pelo deserto e voltei pelo litoral beirando o Pacífico. Na praça em São Francisco foi a única vez que encontrei meus colegas. Quando eles me viram chegando de “doginho” automático não acreditaram e disseram: “Corintiano, realmente você é louco!”. Repito, triste pela ausência de meus colegas de trabalho, mas feliz por uma viagem maravilhosa, gostosa, sem protocolo, sem horário. Acabou a Copa fiquei mais de duas horas tomando cerveja com uns mexicanos. Que castigo!
Deixo aqui os meus agradecimentos dos boys à gerência, assessores, todos os departamentos, retaguardas, enfim só tenho que agradecer, pois me ajudaram muito. Aos meus amigos regionais com quem tive um ótimo relacionamento: Srs. Leone, Ítalo, Mauro Ferraz, Pollete, Negreti, Claudimir, Alan, Pupo, Luiz Antonio, depois diretor e senti um orgulho quando me convidou para participar do governo itinerante do governador Maluf, Assis e desculpe se esqueci de alguém. Um carinho muito especial ao Jair Jacob Mocelim, aquele que tive grandes momentos, como vê-lo ligar de Curitiba e avisar que era para preparar o almoço na cozinha do Zé Pretinho em Guaianases. Que humildade!
Hoje tenho 78 anos e moro em Buri/SP. Fiquei viúvo (três filhos: Armando, Gianna, Karina está falecida) e me casei novamente, também viúva, Gilmara (uma filha Gabriela) e dessa união, ela com 39 anos e eu, com 67 nasceu o pequeno José Gabriel, hoje com 11 anos.
Hoje só tenho contato com meus amigos pela rede social, pelo ‘Bamerindus Sempre’, ‘Família Bamerindus’ e uma vez por ano no nosso almoço anual. Abraço a todos! Que orgulho desse convite! Há pouco tempo participei da TV com o Ariozo e Ronaldo. Agora vocês... Grato! Que Deus continue iluminando a nossa APABAM e ELE vai. Não poderia terminar, sem dizer... Vai Corinthians!