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Doença mata 39 mil brasileiros por ano
16/02/2009
Quatro brasileiros por hora. É este o número de pessoas que a DPOC, doença pouco conhecida no Brasil, mata a cada 60 minutos. DPOC é a abreviatura de doença pulmonar obstrutiva crônica, e classifica a bronquite crônica e o enfisema pulmonar, manifestados separadamente ou em conjunto. Quer dizer, classificava, pois agora as informações sobre esse problemas estão bem mais acessíveis, como explica o médico Carlos Eduardo do Valle Ribeiro. “DPOC significa Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, ou seja a dificuldade de eliminar o ar dos pulmões, devido ao que antigamente se chamava Bronquite Crônica Obstrutiva, Enfisema Pulmonar, Bronquiectasias e algumas outras causas raras de doença pulmonar”.
Sintomas da doença
Os sintomas não são muito específicos ou sérios, o que pode atrapalhar para um diagnóstico precoce. “Os sintomas principais são cansaço aos esforços (algumas pessoas referem como falta de ar, outras como cansaço, outras como canseira), ao caminhar no plano um pouco mais rápido ou mais longe que o normal, ao subir rampas ou escadas, ao trocar-se ou banhar-se, principalmente se a pessoa está com virose respiratória (resfriado, faringite, gripe) ou com infecções respiratórias de outras causas”, como explica Ribeiro.
“Também apresentam tosse, inicialmente matinal, com ou sem catarro, chiado no peito quando têm catarro (a maior parte das vezes), com expectoração (catarro) que pode ser mucoso ou esbranquiçado ou até amarelo-esverdeado, às vezes com sangue em estrias ou fios”, conta o médico. A doença atinge, em sua maioria, pessoas de meia idade ou mais velhas, depois de algum tempo de uso principalmente do cigarro. Mas, como explica Ribeiro, estes não são os únicos casos. “Mas também ela pode ser encontrada em não fumantes, mas que conviveram anos com parceiros fumantes - fumante passivo, em adultos relativamente jovens que apresentam deficiência de uma enzima, em trabalhadores em ambientes onde se respirar fumaças de modo contínuo, sem a adequada proteção respiratória, como carvoeiros, mulheres que cozinharam anos seguidos com fogão à lenha e algumas outras situações específicas”.
Sentindo na pele
O jornalista Aramis Gorniski era fumante e descobriu que sofria da doença em 1996. Os sintomas que apresentava resultaram em um problema no cérebro. “Meus pés e pernas começaram a inchar, sentia falta de ar, com tosse repetida, faltando oxigênio no sangue, o que me deu um colapso cerebral”, conta.
Isso acabou resultando em um internamento na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), e posteriormente em tratamentos extensivos. “Após a saida da UTI, fiz um ano de fisioterapia para reaprender a respirar e movimentar o lado direito do corpo, e há uns 5 anos estou usando oxigênio dia e noite, causando um mal estar às pessoas que me vêem com o pequeno cilindro e os canos de oxigênio”, diz Gorniski.
Outro caso da doença ocorreu na família de Vanessa Raquel Garramoni: sua mãe faleceu em março de 2007, vítima da DPOC. Sueli Trigo Garramoni, a mãe de Vanessa, era fumante há mais de 40 anos, e após descobrir a doença, em junho de 2006, passou por várias etapas. “Parou de fumar, ficou acamada por 9 meses, fez uso continuo de oxigênio e inalações. (…) Manteve-se estável, com algumas crises de falta de ar, tendo que ser levada ao hospital, mas conseguiu levar uma vida razoável. Não melhorou a qualidade de vida, pois (a DPOC) é uma doença crônica e a tendência é só a piorar, enfraquecendo o coração e outros órgãos. Ela também fazia tratamento de Parkinson e Hipertensão”, conta Vanessa.
Grupos de risco
Um dos agentes causadores - ou evoluidores - para a doença é a presença do cigarro, o que coloca os fumantes no grupo de risco. Mas o fato de fumar não é o único que pode contribui para adquirir a DPOC. “Em todo o mundo, as pessoas mais atingidas são as mais velhas, geralmente acima do 50 anos de idade, que fumaram 20 ou mais anos, que trabalharam com fogão à lenha anos, com churrasqueiras ou, com inalação por anos seguidos de produtos derivados da queima de combustíveis vegetais”, explica o médico Carlos Eduardo.
Segundo o médico, hábitos de toda uma vida podem contribuir para o sossego de não ter a doença. “Se o indivíduo não fumar, ela provavelmente nunca vai ter DPOC. Mas se fuma, o melhor é parar, principalmente se for antes de surgirem sintomas. Mas se fuma e já tem sintomas, o melhor é parar o mais rápido, para isso deve procurar consultar-se com um pneumologista, que vai avaliar a gravidade da doença (quantificar a doença) e com isso estabelecer a necessidade ou não de medicação”, indica. E, como para quase todas as doenças, o diagnóstico precoce é muito importante. “Se a doença estiver em estágios iniciais, possivelmente ele encaminhará para acompanhamento do médico assistente do paciente. O que pode acontecer com um paciente portador da DPOC, depende muito da sua condição clínica, da aceitação da necessidade de parar de fumar, da aderência ao regime de medicamentos adequados à sua doença e não uso de fórmulas milagrosas que outras pessoas indicam”, aconselha Ribeiro.
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por Raphael Ramirez