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Por Onde Anda - João Mendes Sanches

04/09/2018

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* Texto publicado originalmente em nosso jornal Fator A, edição 36, de dezembro de 2015
Edição: Raphael Ramirez

Sou filho de imigrantes europeus da província espanhola de Múrcia, mas nasci em 1940, na zona rural do distrito de Primeiro de Maio, município de Sertanópolis (PR). Até os doze anos de idade morei na roça, auxiliando os pais no cultivo de café, cereais e outros produtos de origem agrícola. Com escopo de dar melhor futuro a grande pole, meus pais mudaram-se para a sede do vilarejo, onde a duras penas consegui concluir o curso primário num grupo escolar, único estabelecimento de ensino que existia.

No final de 1955, a numerosa família (10 irmãos) transferiu residência para Cruzeiro do Oeste (PR), cuja região era quase que totalmente coberta de mata-virgem, com grande quantidade de animais silvestres e outras variedades de bichos.

Em fevereiro de 1956 fui convidado por uma vizinha chamada Rosalina Lisboa a trabalhar no Banco Mercantil Industrial do Paraná S/A. Fiquei feliz da vida por esta oportunidade, pois a cidade era pequena e as possibilidades de arrumar emprego eram remotas. Fui à agência, conversei rapidamente com o gerente Sr. Thomas Edison de Andrade Vieira e com o contador, o Sr. Aramis Correia Fernandes. O assunto foi breve e já comecei a trabalhar como contínuo em caráter experimental, sem salário fixo. Iniciei a jornada fazendo limpeza, encerando assoalho e lustrando os móveis com óleo de peroba. Além desta rotina, tinha a incumbência de buscar correspondências no Correio, levar avisos aos clientes, pegar aceites e duplicatas, etc. O seu Edison tinha o costume de “pitar” um criolinho feito de palha, por isto fui ensinado por ele como picar e amassar o fumo de corda, alisar e cortar a palha com um canivete. Ele ainda tinha o hobby de adquirir couro cru de onça, veado e paca, e cabia a mim a tarefa de passar veneno, sal e coloca-los diariamente para secar no sol. Era um serviço horrível, pois aquela courama exalava um odor insuportável. Eu sentia nojo destas tarefas, mas como diz o ditado, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Certo dia saí fazer entregas de avisos e vencimentos e pegar aceites em duplicatas. O período era vespertino, sol quente e calor insuportável. Encontrei um bando de guris matando aula e fazendo racha num campinho improvisado dentro de um pasto. A bola era de meia enchida com palha de arroz. Deixei a pasta com documentos em cima de um barranco e entrei na pelada para completar o time. A certa altura alguém grita: a vaca tá comendo a pasta! Foi uma correria danada para tirar o objeto da boca do animal. Difícil mesmo foi justificar aos patrões srs. Wilson e Alcides, o que havia acontecido. Mentiras pra lá, desculpas pra cá, até que fui obrigado a contar a verdade. Levei uma bronca danada e por pouco não perdi o emprego.

A partir de 1957 passei a fazer atividades internas nas carteiras de Cobrança, Títulos Descontados – TDF/TDC, Contas Corrente, Cheques Descontados – CD, Quadro de Controle, almoxarifado, aplicação de estampilhas nos documentos contábeis, escrituração no livro caixa diário, arrumação dos documentos de caixa e contabilidade, substituição de folhas nos livros de assinaturas autorizadas do Bamerindus e Bancos Correspondentes, calcular juros das contas Prazo Fixo e depósitos Populares.

Lá pelos idos de 1958, chegaram em Cruzeiro do Oeste (PR) o sr. Paulo Simões, diretor, acompanhado pelo sr. Paulo Bartz, gerente comercial da extinta Madison S/A. Eles traziam uma enorme máquina marca Burroughs, acoplada de mesa e cadeira estofada para mecanização das contas correntes. Aquele enorme equipamento era utilizado com manivela, porque na região não existia energia elétrica. Fui designado a trabalhar com este enorme equipamento que, para mim, era um bicho de sete cabeças. Tudo deu errado. Eu não tinha estrutura física nem coragem de enfrentar aquele desafio. Sentei-me naquela cadeirona confortavelmente macia e comecei a puxar a manivela da máquina. No final do expediente estava exausto e pedi arrego.

Em novembro de 58 fui registrado como funcionário comissionado, providência adotada pelo Sr. Igindo Ferraz de Medeiros. Este registro teve caráter obrigatório para que eu pudesse receber a promoção de caixa, função considerada de confiança. Para mim esta promoção foi alegremente recebida, pois a ficha de registro foi assinada pelo superintendente Sr. Avelino A. Vieira.

Em meados de 59, recebi promoção para Contador em Comissão, cargo que exerci nas cidades de Cruzeiro do Oeste, Floraí, Marechal Cândido Rondon e Foz do Iguaçu, todas no Paraná. No início de 63 fui transferido para Medianeira (PR), no cargo de Gerente Comissionado. Em meados de 64 tive o privilégio de participar de um grupo de Chefes de Seção da Matriz, os quais eram incumbidos de substituir gerentes e contadores em períodos de férias, licenças, afastamentos, suspensões e até demissões. Com a criação do cargo de Coordenador de Serviços, no final da década de 60, passei a exercer esta função por muitos anos nas Regionais de Cascavel (PR), Pato Branco (PR), Ponta Grossa (PR) e Londrina (PR). Devido a forte geada que dizimou a lavoura cafeeira no estado, fato acontecido em julho de 1975; obrigou a Alta Cúpula do Banco a adotar severas medidas de austeridades e contenção de gastos.

Em consequência, muitas agências e departamentos foram encerrados, culminando com a demissão e remanejamento de pessoal, além de uma forçada reestruturação organizacional. Diante do exposto fui transferido para a DISER/DERAC em Curitiba. Por muitos anos exerci os cargos de Assessor Administrativo, Inspetor de Serviços, Auditor de Agências Sênior, Supervisor Regional, Implantador de Sistemas, entre outros. Em janeiro de 1993, a pedido do Presidente do Banco, assumi a Diretoria Comercial da Cooban – Cooperativa de Consumo dos Bancários de Curitiba, onde fiquei até a minha aposentadoria em 1998.

Em 12 de junho de 1987, dia dos namorados, com 46 anos de idade contraí núpcias com a paulistana Ione Lacerda Leme. Temos um filho, Heber, nora Luana e uma linda e maravilhosa netinha, Maria Julia, com cinco aninhos.

Não poderia deixar de usar este espaço para externar apreço e gratidão a várias pessoas que foram importantes na minha carreira, pois sem elas, confesso, não teria alcançado os meus objetivos. São elas: Aramis Correira Fernandes, Dr. Mathias Vilhena de Andrade, Igindo Ferraz de Medeiros, Antônio Zanini, Basílio Villani e Altemir Antônio Gugelmin. Há outras que não seria exagero nominar, mas destas seis recebi ensinamentos, oportunidades, conselhos, encorajamento e, acima de tudo, tolerância pelos erros que cometi. A todas elas, o meu ardente desejo que Deus as retribua com as mais benevolentes bênçãos celestiais.

Gostaria nesta ocasião deixar uma mensagem aos Apabeanos, especialmente aqueles que porventura estiverem vivendo ociosamente: deixem um pouquinho o seu conforto de lado; mexa-se, divirta-se, caminhe, pratique algum esporte como tênis, bocha, peteca, pescaria, caminhadas, ou então viaje, participe de passeios, excursões, cante, preste serviços voluntários a entidades filantrópicas, comunidades, mas façam isto com amor e espontaneidade, sem exigir nada em troca. São pequenos atos que praticamos que faz tão bem àqueles que necessitam. A todos, antecipo o desejo de um feliz Natal e um Ano Novo repleto de paz, harmonia e saúde.

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