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Por Onde Anda - Lucrécia Guginski

17/09/2018

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* Texto publicado originalmente em nosso jornal Fator A, edição 30, de dezembro de 2013
Edição: Raphael Ramirez

Nasci no interiorzão do norte catarinense, numa casinha minúscula à beira da estrada de ferro da Cia. Lumber, madeireira norte-americana, no dia 21 de maio de 1940. Meu pai era maquinista de locomotiva e trabalhava no transporte para Três Barras da madeira extraída da floresta, toras enormes, para que fosse beneficiada e exportada. Passei minha infância na Vila de Três Barras (SC) e em 1956 minha família mudou-se para Curitiba.

Em outubro de 1958 fui pedir emprego no Bamerindus, diretamente ao Sr. Avelino A. Vieira, e sem qualquer teste ou outra formalidade, pediu-me que esperasse alguns dias, pois estavam justamente mudando a Matriz do Bamerindus da Rua Mal. Floriano para a Rua Cândido Lopes. Lá eu deveria procurá-lo; assim o fiz, e ainda no mês de outubro de 1958 apresentei-me para o Sr. Avelino na Matriz da Cândido Lopes, e a seguir, a pedido do Sr. Avelino, o Sr. Edgar Kleinke acompanhou-me ao andar onde funcionava a Inspetoria de Agências. Na época trabalhavam lá quatro inspetores, sendo um deles o Sr. Edison Vieira.

Fiquei aproximadamente um ano e meio na Inspetoria, quando num final de expediente, dentro do elevador, conversávamos entre colegas de trabalho, e comentei que morava no bairro do Portão. O Sr. Avelino, atento como sempre, disse-me que necessitavam de funcionária na agência do Portão e que, portanto, eu iria trabalhar lá. Assim foi e, durante nove anos passei pelas funções de auxiliar de serviços, encarregada e chefe de serviços da Agência. Foi um período decisivo na minha carreira bancária, uma verdadeira escola, carteira de descontos, carteira de cobranças, balancete diário, diário copiador, quadratura da conta corrente, caixa, etc.

A Agência do Portão possuía clientela composta por cerealistas que manipulavam enorme quantidade de dinheiro trazido em sacos de aniagem. Ficávamos à noite, e muitas vezes nos finais de semana, contando o dinheiro contido em sacos e mais sacos repletos de cédulas até a borda e amarrados com barbante!

A Agência do Portão foi pioneira no atendimento a clientes no sistema drive-in e também na automação bancária. Acredito que foi “cobaia” pela proximidade da mesma ao chamado “Centro Mecanizado”, que ficava localizado em um prédio a poucos metros de distância. No final dos anos 60, fui designada para trabalhar como gerente do Almoxarifado, e a seguir para a recém adquirida “Aurora SA” – embrião do Bamerinvest, Banco de Investimentos e a Financeira do Bamerindus. Trabalhei, depois de vários anos no BBI, também no Centro Contábil e no DECOR.

Desnecessário, talvez, reiterar a admiração que sempre nutri pela figura ímpar e carismática do Sr. Avelino A. Vieira, não apenas porque tenha me empregado em seu banco, mas pelo zelo que demonstrava nos menores gestos e atitudes ao examinar indicativos da situação contábil. Muitas vezes em que se deslocava até a Agência Portão, pedia-me o último balancete mensal, e indicando a linha onde aparecia o saldo das receitas diferidas, comentava a necessidade de se reservar parte do lucro para apropriações em exercícios futuros e o quanto isso era necessário para assegurar e garantir o pagamento dos dividendos aos acionistas, que afirmava, eram os donos do banco. Os números expressos no Balancete deviam ser justos e honestos em retribuição à confiança depositada pelos acionistas ao Bamerindus, dizia sempre o sr. Avelino.

A competência, o caráter, a lealdade, a dignidade, a modéstia e outros tantos atributos fizeram do sr. Edgard Guilherme Kleinke um modelo a ser por mim seguido e imitado. Não foram poucas as ocasiões em que a ele recorri e o sr. Edgard, com sua infinita paciência, desatava nós ou indicava o caminho a ser seguido. Outro colega importante e marcante no que diz respeito à minha carreira foi o sr. Fábio Lopes Pereira Coelho. Trabalhei com o sr. Fábio na Agência Portão, e aprendi muito com ele.

“Cada pessoa que passa em nossas vidas é única. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Há as que levaram muito, mas não há as que não deixaram nada”. É um texto de autor desconhecido que acredito expressar o que penso e sinto a respeito dos colegas, amigos, profissionais bamerindianos em tantos anos de convício. São todos preciosos.

Quando era Chefe de Serviços da Agência Portão, algumas ocasiões houve a necessidade de transportar grande quantidade de dinheiro para a Tesouraria, na Rua Cândido Lopes, com urgência. E lá ía eu, de Fusquinha 66 abarrotado de sacos de 60 kg cheios de dinheiro, o que o carro comportasse. Descarregava os sacos na calçada da rua e pedia auxílio aos funcionários da Tesouraria para leva-los para dentro. Simples assim!

Aposentei-me em 1986, quando atingi o tempo de contribuição necessário após computado também o tempo de serviço anterior ao do Bamerindus. Mas não fiquei muito tempo sem trabalhar. Em 1987 recebi o convite de Inspetor do Banco Central para fazer auditoria contábil em Corretora de Valores sob intervenção do Bacen. Como resultado deste trabalho, conheci pessoas ligadas à área falimentar e permaneci atuando nesta atividade como Perita Contábil judicial junto às Varas da Fazenda Pública. Afastei-me somente no ano 2001, por motivo de saúde.

Desde o ano de 2002 estou morando em Balneário Piçarras (SC). No entanto, mantenho estreitas ligações com Curitiba, onde residi por mais de 50 anos.

Quando houve a intervenção do Banco Central no Bamerindus, nos veio a insegurança quanto ao complemento da aposentadoria garantido até então. O empenho de alguns colegas e a existência da Apabam já a partir de abril/97 permitiu que nós todos ficássemos tranquilos quanto aos nossos direitos.

Paralelamente a esta grande vitória coletiva, a Apabam vem prestando apoio também em outras áreas aos seus associados. No início de 2012, em contato com a Assistente Social, sra. Célia, a respeito de procedimento cirúrgico não coberto pela Seguradora de Saúde, fui informada da possibilidade de conseguir a cobertura do custo, a priori, sem que necessariamente tivéssemos que peticionar judicialmente. E assim, com a sua orientação, conseguimos inteiro êxito em nosso pleito.

Imbuída de postura emocionalmente positiva perante o quadro grave de doença viral crônica – Hepatite C – já em fase avançada de cirrose, gostaria de transmitir depoimento de que nada é impossível ou improvável desde que, com muita paciência, alta dose de otimismo, extrema disciplina e, principalmente, muita fé em Deus, é possível sim reverter ou minimizar um quadro de doença em fase avançada.

Nestes últimos 12 anos de constante troca de auxílio e conhecimentos sobre a Hepatite C, não titubeei quando foi necessários sair de Curitiba para tentar tratamento em Santa Catarina onde, após duas tentativas de tratamento mal sucedidas, fui para o interior paulista, na Unesp de Botucatu, onde graças a Deus, contrariamente às opiniões médicas e números estatísticos, obtive sucesso após dois anos de penoso tratamento.

Isto não significa que a guerra está ganha; existem batalhas que ainda devem ser enfrentadas, como já ocorreu em 2012. Esta é a maior responsabilidade em minha vida – é uma luta demorada, sem prazo definido, penosa, porém enfrentada com muita fé, pensamento positivo, humildade e muita coragem!

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